Sopa:
do germ. Suppa, ‘pedaço de pão
embebido em um líquido’ assim define
o dicionário. Também fala em caldo com carne, legumes, massas ou outra
substância sólida servida, normalmente, como primeiro prato do jantar.
Câmara
Cascudo, uma referência para quem estuda cultura popular, relata em seu
“História da Alimentação no Brasil” (p. 533) que a sopa como nos é servida, é
fórmula europeia, veio com os portugueses. Os indígenas e africanos tinham
alimentos líquidos e semilíquidos, mas nenhum deles podia se comparar à sopa.
Antes do nome de sopa esse alimento era denominado caldo, correspondendo aos consommés, servidos quentes. A confusão entre sopa e caldo se estabeleceu e, no Brasil do século 16, foi feita a seguinte diferenciação: caldo para o molho do cozido, mesmo se aproveitado independente e sopa sendo um caldo preparado para abrir a refeição da tarde, o jantar.
A
sopa das aldeias (sítios ou cidades interioranas) é mais consistente, mais grossa,
onde se cozinham vários legumes e hortaliças e é servida com pão, de
preferência feito em casa. É uma refeição completa. Nas grandes cidades, é um
caldo mais ralo que pode ou não conter verduras picadas, mas não é um prato
único, antecede os pratos do jantar. Esse era o costume de antigamente.
Os
indígenas brasileiros consomem (ou consumiam) os vegetais na forma de pirões e
papas (mingaus) assim como os africanos. Calcula-se que as papas tenham
cinquenta séculos, o caldo é mais velho também que as sopas. “O caldo,
isoladamente, não teria personalidade como as sopas e as papas. Indicava
unicamente uma função térmica: – o quente”
segundo Cascudo.
Curiosamente o caldo passou a ter uma qualidade médica: cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Ninguém escapava de um caldo ao menor sintoma de indisposição. Caldos de carne, peixe, aves, cereais, legumes, os caldos amazônicos de açaí, bacaba, tucumã, com farinha d’água. Caldo de cana, doce, azedo, caldo verde português e o caldo de Toledo – espanhol – que segundo dizem ressuscita um morto! No nordeste brasileiro o caldo finaliza as peixadas – o remate.
Assim,
pelo Brasil todo, e também pelo mundo, os caldos e sopas são consumidos quentes
enquanto a papa pode ser quente ou fria. As papas indígenas eram os mingaus –
de minga-ú, monga-ú, o comer
visguento – eles faziam (ou fazem) com caldo de carne ou peixe e engrossavam
(ou engrossam) com farinha de mandioca, a farinha de pau.
Tudo
isso caiu no gosto de todos nós. Para aquecer, para curar, para juntar amigos,
tanto faz. Grosso, ralo, com pão ou torrada, com vinho ou leite, as
modificações que foram sendo feitas garantiram a longevidade desse alimento.
Sopa, canja, caldo, papa, mingau… O que vai ser?