Daiana Garbin trata distúrbio alimentar não especificado depois de conviver 22 anos com a doença. Foto: Sylvia Aroni

“Não sei direito se a relação doentia que sempre tive com meu corpo me levou a ter uma relação doentia com a comida ou se foi o contrário… Durante uma sessão de terapia, relembrei que a primeira vez que me senti gorda foi aos 5 anos, quando minha mãe me colocou no balé”.

Essas são apenas algumas das confissões que Daiana Garbin faz no livro “Fazendo as pazes com o corpo”. A jornalista é convidada da edição de fevereiro do “BrainFitness”, evento com entrada gratuita realizado pelo Taubaté Shopping, Livraria Leitura e Almanaque Urupês.

No domingo, dia 18, a partir das 16h, a autora vai contar como foi viver por mais de 20 anos com distúrbios alimentares em busca dos padrões inalcançáveis de beleza. Em entrevista, Daiana contou um pouco sobre a descoberta do transtorno e a mudança na forma como vê o corpo depois do início do tratamento.

Quando e como descobriu que tinha transtorno? 

No final de 2014. Fazia dois anos que eu encarava uma dieta hiper-restritiva, ingerindo entre 600 e 800 calorias por dia, quase sem carboidratos. Então, meu marido (Tiago Leifert) e eu viajamos para um resort em Foz do Iguaçu, para passar a semana do Ano Novo. Eu estava de férias, não ia me preocupar em fazer dieta e liberei geral. Como era de esperar, engordei. O vestido do réveillon ficou muito apertado. Mesmo assim, comi tudo o que pude naquela noite. Na manhã do dia 1º de janeiro de 2015, acordei, me olhei no espelho sem roupa e desmoronei. Resolvi procurar uma psicóloga, mas nunca me abri totalmente. Em maio de 2016, procurei uma psiquiatra e finalmente expus todo o meu drama. Foi assim que tive meu diagnóstico: transtorno alimentar não especificado.

Que sintomas você tinha?

A comida mandava na minha vida. Eu pensava em comer o tempo todo. Era como se fosse um vicio. Uma relação doentia. Quando comia quase morria de culpa e usava remédios para me livrar do que tinha comido. Nesse quadro, a pessoa apresenta um comportamento desequilibrado em relação à comida, gerando prejuízos reais para a saúde e causando um sofrimento profundo. No entanto, ele é “não especificado” porque não se encaixa em todos os critérios de nenhum transtorno específico. Por exemplo, eu tinha comportamentos típicos de uma anoréxica, mas nunca cheguei a ficar muitos dias sem comer nem tive perda de peso acentuada. Um dos meus sintomas – o que mais me fazia sofrer – era a distorção da imagem corporal, que fazia com que eu enxergasse meu corpo de uma maneira totalmente diferente de como os outros me veem. Eu queria muito me ver como as pessoas me viam. Mas isso não acontecia.

Como foi a aceitação de que precisava tratar um transtorno alimentar?

Estava exausta de me odiar, de não me aceitar. Não aguentava mais tratar meu corpo como se fosse meu inimigo. Decidi priorizar minha saúde, cuidar do meu corpo, da minha mente e da minha alma.

Você ainda faz tratamento?

Sim, ainda estou em tratamento com psicanalista e nutricionista, mas já estou muito bem. Fiz as pazes com a comida e já consigo comer de tudo, sem exageros. A meditação me ajuda muito. Pratico Mindfulness todos os dias.

‘Eu pensava em comer o tempo todo… Quando comia quase morria de culpa e usava remédios para me livrar do que tinha comido.’ Foto: Sylvia Aroni

Depois de tudo, o que significa pra você hoje ter um corpo ideal?

Por 22 anos eu vivi fora do meu corpo, como se fôssemos dois seres diferentes – “eu” e “meu corpo”. Sentia meu corpo como se ele fosse um molde de massinha que eu queria modelar até ficar perfeito. Esqueci que eu era um ser vivo, que nasci com uma estrutura óssea e muscular diferente da dos outros, que meu corpo tem um formato e um tamanho únicos, e que exatamente por isso não posso compará-lo com os outros. Esqueci tudo isso. Nós esquecemos tudo isso. Mas podemos e vamos mudar isso! O nosso corpo NÃO está errado. Quando você voltar a honrar e ocupar seu corpo, vai começar a sentir que ele é o seu lugar no mundo, que é o seu espaço, que é único, e assim você vai aprender a respeitá-lo e amá-lo. Se continuar permitindo que os outros tentem moldar sua aparência de acordo com um padrão “ideal”, vai ser difícil se amar e se aceitar de verdade. O corpo é seu, jamais esqueci disso!

O que é ter uma alimentação saudável pra você?

Ter uma alimentação saudável é aprender a comer com calma, atenção e prazer. Retomar o controle do apetite e da saciedade, e começar a comer de forma intuitiva. É necessário ouvir seu corpo e respeitar sua fome, assim você poderá decidir quando comer, o que comer e quanto comer.

Hoje você está em paz com seu corpo?

Sim. Eu aprendi que cuidar-se não é ter um corpo bonito para mostrar para os outros, mas sim ter um corpo confortável e saudável para você morar. E, mais do que isso, estou em paz com meu corpo e comigo! Nossa mente pode ser nossa pior inimiga, mas aprendi que temos a capacidade de mudar o que se passa em nossa mente. Acabe com o hábito de pensar e falar coisas ruins a seu respeito. Os pensamentos pessimistas podem ser transformados em pensamentos positivos, em respeito, aceitação, amor, autocompaixão.

BrainFitness com a Daiana Garbin

Dia 18, às 16h, no hall do Moviecom Cinemas do Taubaté Shopping

Entrada gratuita.

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