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Prato servido na Osteria Itália, em São José dos Campos

Há quase três meses, recebi da editora Senac o livro “Comida e Liberdade”, de Carlo Petrini, jornalista italiano que criou, em 1986, o movimento “slow food”. O livro me ajudou a refletir sobre o quanto esse movimento ainda é tímido no Brasil se compararmos com a força que ele tem em outros países.

No livro, Petrini fala sobre diversos projetos que promovem a “libertação da comida”, garantindo a sua função genuína: alimentar (especialmente as populações mais carentes), sem deixar de respeitar os agricultores e preservando a biodiversidade.

Ainda hoje, há uma confusão grande em relação à proposta do “slow food”. Segundo Vitor Pompeu, docente do Senac Campos do Jordão, muitas pessoas ainda relacionam o “slow food” apenas ao fato de comer com calma, apreciando a comida, o ambiente e as pessoas. Mas o principal está no posicionamento do restaurante perante a sociedade local.

“Para atender os preceitos do ‘slow food’, o empreendimento deve valorizar os produtores rurais de sua região, estabelecendo e fortalecendo uma relação sustentável com eles. Hoje temos a necessidade de retomar essa conexão para que possamos resgatar antigos hábitos, saberes e produtos que, aos poucos, vão sendo esquecidos”, afirma Pompeu.

Pensando por esse ponto de vista, segundo o docente, o “slow food” contribui para uma gastronomia sustentável,defendendo a agricultura orgânica, o consumo local dos produtos e de itens sazonais (aproveitando o melhor momento dos alimentos e seus nutrientes).

“O olhar social que o ‘slow food’ traz para a gastronomia atual é a questão mais importante, dando atenção para as exclusivas preciosidades culinárias que ainda se encontram em hortas, pequenos bairros rurais e no saber das pessoas. Por muito tempo valorizamos produtos e estilos de cozinhas estrangeiras, especialmente a europeia, e o ‘slow food’ mostraumcaminho para que valorizemos o que temos de melhor ao nosso redor: nossos produtos de raiz”, diz Pompeu.

Exemplos. Essa não é uma missão fácil. Mas quem adere ao movimento garante que vale a pena. Luciana Valladão, do Luciana Slow Food, de Guaratinguetá, afirma que, mesmo com quase 15 anos de história, ainda hoje precisa explicar a proposta da casa para novos clientes que questionam, por exemplo, a demora de um prato.

“É trabalhoso, mas vale a pena quando temos o retorno de um cliente satisfeito. A verdade é que a nossa satisfação começa bem antes, quando precisamos garimpar nossos fornecedores e encontramos coisas de qualidade”, afirma Luciana.

Mesmo sem ser assumidamente uma casa “slow food”, a Osteria Itália, em São José, aplica alguns conceitos do movimento em seu negócio, segundo o empresário FernandoBasile.

“Um renomado chef inglês apresenta um programa de televisão em que salva da falência restaurantes com dificuldades financeiras. Invariavelmente, o remédio é enxugar o cardápio, diminuir o número de pratos, concentrar-se em produtos e ingredientes locais, frescos, sazonais, comprar de pequenos fornecedores. Tudo isso faz parte da filosofia. É a prova de que o business e a filosofia ‘slow food’ não só podem conviver, como se complementam”, diz Basile.

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