A paixão pela gastronomia local e o objetivo de divulgar e valorizar o que a Serra da Mantiqueira tem de melhor uniu três professores: um carioca, um mineiro e um paulista. Coincidência, ou não, representantes dos três estados brasileiros por onde a cadeia de montanhas se estende. E assim nasceu o projeto “Sabores da Mantiqueira: roteiro gastronômico da região do rio Sapucaí Mirim.”
Ricardo Barbosa (o carioca), é docente do Senac – Campos do Jordão há 20 anos, mora em Itajubá, mas frequenta Campos – onde a família tinha uma casa — há cerca de 40 anos. Vitor Rabelo (o mineiro de BH) chegou na região em 2014, para fazer pós-graduação em Cozinha Brasileira em Campos, e acabou virando professor na unidade do Senac.
Já Vitor Pompeu (paulista da capital), que também é professor da instituição, começou a vivenciar a gastronomia local em 2002, quando a família montou em Gonçalves o Restaurante Sauá e a Pousada Bicho do Mato.
Ele conta que depois de diversas conversas em momentos distintos, os três resolveram se juntar para criar o projeto que não levanta apenas a bandeira da culinária, mas têm a preocupação com a manutenção da cultura local e com a sustentabilidade econômica por meio do turismo, seja ele gastronômico ou rural.
Pequenos itens e hábitos que antigamente faziam parte do cotidiano, processos artesanais, aos poucos, vão se perdendo. Alguns se mantêm apenas na memória dos mais antigos. O projeto nasceu justamente com a proposta de conhecer e divulgar esses produtos, processos e saberes, valorizando esses itens que são emblemáticos para a cultura regional.
“Muitos desses pequenos produtores possuem uma raiz muito grande com a identidade local e a sobrevivência desta identidade depende muito da permanência deles na região, por meio dessa valorização… Quando você conhece as pessoas que geram o seu alimento muda totalmente a relação que você tem com esse alimento, ele ganha uma feição humana… O consumidor conhecendo o que ele está consumindo consegue valorizar mais o produtor local, não atribuindo valores aos itens como se fossem simples ‘commodities’”, explica Pompeu.
Garimpo. E o trabalho de garimpo dessas preciosidades regionais já começou. E a intenção é que as expedições pela Serra da Mantiqueira se estendam pela região do rio Sapucaí Mirim, em oito cidades: Gonçalves, Paraisópolis e Sapucaí Mirim, em Minas; São Bento do Sapucaí, Monteiro Lobato, São Francisco Xavier, Santo Antônio do Pinhal e Campos do Jordão, em São Paulo.
“Algo importante de ressaltar são os critérios estabelecidos pelo projeto para a participação dos produtores, que se relacionam dentro de quatro principais parâmetros: produção orgânica; relevância culinária; identidade local e preocupação com o meio ambiente”, afirma.
Os professores contam que têm apreendido muito a cada expedição e o que mais chama a atenção certamente é a riqueza de detalhes, o cuidado e a paixão que cada pessoa demonstra pelo que tem de mais precioso, seu produto e toda a tradição e o conhecimento que ele envolve.
“Já encontramos várias coisas interessantes, seria injusto falar de apenas um ou outro, seja uma farinha específica, uma broa que têm uma receita de família, um produtor de shitake orgânico ou de cerveja artesanal, muitas técnicas especiais e tradicionais”, conta Pompeu.
Divulgação. As experiências são registradas em fotos e vídeos que serão usadas para ilustrar artigos que o trio já começou a escrever. A intenção é divulgar o conteúdo no maior número de mídias e atingir o maior número de pessoas possível.
Além das páginas nas redes sociais (Facebook, Instagram e Youtube), as publicações também farão parte de uma coluna aqui no Degusta Vale, além de um blog próprio que ainda será lançado. E eles não descartam a possibilidade de ampliar o projeto.
“Há a intenção futura de reunirmos o conteúdo em um livro e num possível documentário… Existe também a possibilidade, após o término de expedições pela Mantiqueira, de ampliarmos as pesquisa para outras regiões, como o Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista”.
Sabores da Mantiqueira