Segundo a lenda Tupi, a mandioca nasceu do corpo da menina Mani. Existem várias versões para essa lenda – como toda tradição oral, quem conta um conto aumenta um ponto – mas em todas elas o fio condutor se mantém. Mani, menina lindíssima e muito branca que falou e andou precocemente, morreu com um ano de idade “sem adoecer nem sentir dor”. Foi enterrada dentro da própria casa segundo a tradição de seu povo (Cascudo, p.545)[1].

Depois de um tempo, brotou de sua cova uma planta desconhecida. Cresceu, floresceu e deu frutos. A terra afinal rompeu-se e os indígenas julgaram reconhecer no fruto, o corpo de Mani. Como era uma época de pouca comida, eles comeram aquela raiz e assim aprenderam a usar a mandioca – mani-óca. Essa versão foi registrada em 1876 por Couto de Magalhães.

Também encontramos manioca como sinônimo de mandioca e Mani como espécie de deusa que se transforma em mandioca. E também mani como sinônimo de pão. Então temos: 1)Mandioca: a casa de Mani e 2) manioca: a casa do pão (Domenico, p.591).[2]

No denominado ciclo econômico do Pau-Brasil que foi de 1500 a 1695 aproximadamente, a mandioca era a base da alimentação nesta terra. Segundo Pero Vaz de Caminha, “eles não lavram nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse inhame, que aqui há muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as árvores de si lançam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos”. (Cascudo, p.75)[3].

Foi o primeiro registro sobre a alimentação indígena, que se tem notícia, feito por Caminha em sua carta datada de primeiro de maio de 1500, uma sexta-feira.

Nessa carta ele fala “desse inhame”, porém o nome inhame foi trazido pelos portugueses que, na época não perguntaram aos tupiniquins como eles chamavam aquele alimento.

“A raiz que alimentava o brasileiro é a mandioca […] seguem-na a macaxeira, aipim, ambas com variedades incontáveis, as batatas e os carás” (Cascudo, p. 80).

Com a mandioca faziam farinha, tapioca, beiju e bebidas alcoólicas. A macaxeira, aipim, mandioca doce, também servia de alimento assada ou cozida. Da mesma família da mandioca, se diferenciam pela cor dos ramos.

Havia também plantações de cará, milho e abóbora e acrescentavam na alimentação o palmito, as frutas como caju, ananás e jenipapo, as carnes de caça e os peixes que conservavam tostados no moquém – gradeado de madeira para assar a carne sem que ela entre em contato com a chama – utilizavam como tempero, o sal de palmeira.

Os portugueses que vieram para o Brasil na época, tiveram que alterar seus hábitos alimentares trocando o trigo, por exemplo, pela farinha de mandioca, de origem indígena, mas trouxeram em seus navios a água, o vinho, vinagre, azeite, biscoitos, carnes salgadas e cebola. Trouxeram também carneiros e galinhas vivos para completar o cardápio.

… E assim o cardápio “brasileiro” começou a se formar nessa diversidade de sabores, consistências, nomenclaturas e aromas.

Notas:

[1] Cascudo, Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint  S.A., 1972.

[2] Domenico, Hugo Di. Léxico Tupi-Português. Taubaté: UNITAU, 2008.

[3] Cascudo, Luís da Câmara. História da Alimentação no Brasil. São Paulo: Global, 2011.

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