A cultura, por muito tempo, ficou atrelada às épocas: época da colheita, época do plantio, época da secagem e assim por diante. Então, quando era época de milho, por exemplo, juntavam-se os amigos, a família, os vizinhos para trabalharem juntos – o mutirão – fazendo guloseimas com esse produto.

Era tarefa dos homens a colheita do milho. Com seus balaios de vime nas costas, encaravam o milharal e voltavam com eles cheios.

As mulheres nos quintais tiravam as palhas dos milhos com muita delicadeza para não estragá-las, pois era delas que faziam os embrulhos para colocarem as pamonhas.

As crianças, com seus dedinhos pequeninos, retiravam todos os cabelinhos das espigas com tanta paciência que até pareciam cirurgiões.

Sim, isso era o mutirão. Todos ajudando para um bem comum!

Conversas corriam soltas, os assuntos eram variados, as notícias colocadas em dia. Alguma música às vezes e até causos engraçados se ouvia. Começava-se pela manhã e entre cafés e comidas, passava-se o dia todo nessa empreitada.

Aos homens também cabia a tarefa de ralar o milho – à mão em ralo de alumínio – ou em engenhocas criadas por eles mesmos. E aquele suco grosso e amarelo ia escorrendo para grandes bacias para logo ser dividido e processado nas diferentes receitas. O suco e o bagaço são utilizados.

A colheita era uma das responsabilidades dos homens, que usavam balaios de vime para encarar o milharal. Fotos: Pixabay.com

Dali saía pamonha (doces e salgadas), curau, bolo, suco, sorvete, cuscuz, e tantas outras receitas quanto a criatividade das cozinheiras permitia.

O milho seco, do ano anterior, era debulhado e colocado na moenda. A roda d’água movimentava as rodas de pedra triturando o milho, transformando-o em fubá para fazer a polenta.

São várias frentes de trabalho. Cada grupo se responsabiliza por uma atividade… E os aromas vão surgindo. Que delícia!

As embalagens também eram variadas, a apresentação idem. Em algumas casas, para acomodar as pamonhas, era costume fazer os saquinhos de palha costurados à máquina, em outras era apenas embrulhado. Um nó para as pamonhas doces; dois nós para as salgadas.

No fogão, o milho se transformava em diferentes receitas, tantas quanto a criatividade das cozinheiras permitia criar.

No fogão (à lenha, alguns) já estavam as panelas pilotadas pelas mulheres. Mexe que mexe para não grudar!

Não pode ficar “pistareil” dizia meu sogro. Eram aquelas bolotinhas duras que ficam na polenta quando não se dissolve tudo. E dá-lhe colher de pau para vencer todo aquele conteúdo.

No forno, os bolos estavam assando e espalhando pelo ar o convite para a degustação.

No pátio, as crianças brincam de pega-pega, esconde-esconde, esperando as guloseimas ficarem prontas.

Final de tarde, o cansaço vem chegando. Hora do café com bolo. Da pamonha salgada frita com ovo e queijo derretido. Da polenta com catalonha refogada.

Revigora, aproxima, delicia, une.

Na mesa improvisada com tábuas e cavaletes – sem toalha – serve-se o produto do trabalho conjunto. O aroma vai longe… As conversas continuam, agora mais calmas… As crianças aquietam… As amizades se fortalecem!

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