Rita Lobo, do site Panelinha

A escola de Bela Gil ganhou força. E o número de adeptos do “você pode substituir ‘isso’ por ‘aquilo’”, cresceu vertiginosamente. Até aí, nenhum problema. Aliás, acredito que a busca por uma alimentação mais saudável deveria ser uma meta universal.

O fato é que, com aumento do “bloco dos saudáveis”, muitos radicais resolveram defender suas bandeiras com unhas e dentes, travando uma verdadeira batalha contra os “desregrados” comedores de bacon.

Polêmica mais recente sobre o tema foi a que envolveu a apresentadora Rita Lobo, do site Panelinha. No Twitter, ela postou: “ ‘Pq vc ñ ensina maionese com óleo de coco e iogurte, em vez d gema e óleo?’ 1) pq ñ é maionese; 2) trate seu distúrbio alimentar.” E aí, a rede veio abaixo.

Rita fazia uma crítica ao que ela mesmo chamou no Twitter de “modismo”, que tem levado as pessoas a um exagero na preocupação com relação à alimentação e às restrições alimentares — a Associação Brasileira de Nutrologia define esse “distúrbio do comportamento alimentar caracterizado por uma obsessão para comer saudável” como ortorexia.

Vitor Pompeu, chef do Restaurante Sauá, em Gonçalves, e docente do Senac Campos do Jordão, acredita que as pessoas tem exagerado, sim, e que isso tem raiz em alguns fatores, entre eles a própria industrialização dos alimentos.

“A industrialização ocasionou uma ruptura, uma falta de conexão com as nossas origens alimentares e distanciou o produtor rural da cozinha, o campo do prato. Então, ficamos sem as devidas referências. Gosto de pensar no que é tradicional. No caso da maionese, por exemplo, o que é maionese de verdade?”, questiona o docente do Senac.

Para Pompeu, tudo que é exagerado não faz bem. E isso inclui o consumo excessivo de alguns alimentos, como as proteínas animais, por exemplo. Ele lembra que pouco tempo atrás, não se comia carne diariamente, como é habitual hoje, o que pode influenciar na nossa saúde. Por isso, para ele, o equilíbrio e a moderação são imprescindíveis.

“Em contraponto, acredito que essas preocupações alimentares geram uma experimentação de novos recursos, de novos produtos e até da utilização de produtos de formas diferentes na cozinha, o que é muito interessante. Então, apesar de acreditar que existe, sim, um exagero, esse outro olhar traz benefícios pra cozinha também.”

A chef Renata Porto, especialista em alimentação saudável, reforça que o tema tem provocado, como em qualquer modismo da sociedade, visões distorcidas sobre o que de fato é saudável ou não.

“As pessoas tem confundido o comer saudável com dieta, e muitas vezes sob a ótica de blogueiras ou do marketing de empresas interessadas neste segmento. Alimentação saudável vai muito além de somente substituir a farinha de trigo pela farinha de arroz no bolo, por exemplo”, diz Renata.

A chef defende que a alimentação saudável está relacionada a uma reeducação alimentar, em que a ingestão de não industrializados, o consumo de verduras, legumes e frutas orgânicos, ou ainda, a exclusão do refrigerante passam a fazer parte da rotina.

“Não é deixar de comer batata porque é carboidrato e porque engorda. É comer a batata no horário e em quantidades corretas. Quando uma nutricionista ou um chef tira o glúten da alimentação, não é porque não é saudável, já que o glúten é uma proteína do trigo e trigo é da natureza. Retira-se porque o glúten que chega ao Brasil vem da China e carrega grande carga de agrotóxico”, explica.

Desse ponto de vista, a chef defende que é necessário entender que a “comida de verdade e orgânica” não é cara, mas a comida industrializada e altamente processada é barata demais. “Alimentação saudável não é dieta, é estilo de vida. E o equilíbrio é sempre a melhor companhia da moderação e devem andar de mãos dadas”.

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