A maneira de se relacionar mudou. Quem poderia imaginar, meses atrás, que todos estariam adaptando a sua rotina de vida por conta de uma pandemia que se alastrou rapidamente pelo mundo inteiro? Grandes eventos cancelados, restaurantes fechados e inúmeras vidas sendo impactadas diariamente.

Os reflexos começaram a aparecer por todos os lados. Setores como comércio, indústria e alguns serviços foram afetados frontalmente. Pequenos e grandes negócios na área de alimentação precisaram agir de forma rápida e realizar adaptações: refeições por take away, drive thru e sistema de delivery. Já outras empresas que não tiveram como se estruturar em tão pouco tempo, não resistiram e faliram.

Observa-se que até a comida que nem era tão democrática, assinada por grandes chefs, teve que ser reinventada e adaptada para caber numa marmita. Cardápios foram simplificados e reduzidos para que tivessem custo mais baixo e assim, consequentemente, alcançar um aumento no volume de vendas para assegurar o funcionamento do negócio.

Além dessa reinvenção por parte dos restaurantes e demais serviços de alimentação, um outro ponto crucial tem sido determinante para o sucesso de vendas dos estabelecimentos: a credibilidade que a empresa tem passado com relação a segurança alimentar na entrega dos produtos prontos para consumo.

Em tempos que os hábitos alimentares mudaram, cozinhar em casa tem parecido a opção mais segura para muitas pessoas e a rotina um pouco menos apressada tem favorecido esse fator. Isso não exclui a possibilidade desse consumidor pedir comida fora esporadicamente, mas aponta que ele está atento a como essa comida está sendo manipulada e entregue.

Os cuidados com higiene e manipulação de alimentos dentro de uma cozinha sempre foram de extrema importância e, nesse momento, são fatores que merecem atenção redobrada. Além da habitual rotina de higienização e desinfecção de alimentos, o recebimento de insumos, limpeza de caixas e manipulação de embalagens tornaram-se também um importante ponto de atenção. As equipes de cozinha tiveram que passar por um processo de treinamento para atender os novos protocolos que norteiam o cenário atual do serviço de alimentação.

Sabe-se que a 70°C o vírus é exterminado, então, teoricamente, alimentos que sejam submetidos a essa temperatura estão a salvo. Porém, a preocupação é com relação a manipulação desse alimento já pronto, principalmente, na etapa de embalagem, em que um colaborador assintomático infectado, sem o uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPIs), pode contaminar a entrega. Por essa razão, acredita-se, cada vez mais, que a maneira com que a comida é entregue vai mudar. Um exemplo disso são as empresas que já tem optado por oferecer refeições coccionadas no termocirculador e seladas à vácuo, garantindo a segurança durante todo processo de preparo e também na entrega.

Além disso, a maneira com que a refeição é apresentada também mudou. Serviços de buffet e caterings caem, cada vez mais, em desuso. Hotéis e pousadas já têm apostado em itens para café da manhã embalado individualmente e servidos no quarto, eliminando assim alguns riscos de contaminação e trazendo mais tranquilidade aos hóspedes.

Algumas empresas pequenas do ramo de alimentação que têm trabalhado durante a pandemia e obtido êxito, investiram em alguns fatores que foram decisivos para mantê-las inseridas no mercado: a logística de insumos e adaptação de cardápio – é de conhecimento de todos que muitos fornecedores estão limitados nesse período, por essa razão, pensar num estoque enxuto que apresente versatilidade, é essencial para se manter trabalhando; catálogo de exposição e vendas on-line – as pessoas estão mais conectadas do que nunca, por isso, disponibilizar produtos por aplicativos é uma facilidade que tem um bom alcance; parcerias que contribuem para o fortalecimento da marca – estabelecer vínculos com terceiros que auxiliem na entrega, no fornecimento de matérias- primas e questões que demandam delegações; ações que estabelecem um relacionamento afetuoso com cliente – muitas empresas estão apostando em personalização, pois o consumidor se sente lembrado com uma série de iniciativas como brindes ou, até mesmo, um singelo bilhete que acompanha a entrega; demonstrar ao cliente a preocupação com a segurança alimentar que vai desde o recebimento e manipulação até a entrega do produto – o consumidor está comprando de quem tem se mostrado engajado com essa preocupação, treinado colaboradores e utilizado equipamentos de proteção individual, pois são fatores que demonstram credibilidade e inspiram confiança.

Bruna Prado é gastróloga e professora do Centro Universitário Senac – Campos do Jordão nas disciplinas de Confeitaria, Cozinha Francesa e Cozinha Fria

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