Quem vê pela primeira vez o “Seo” Paulinho, em sua fazenda Santa Terezinha, ou mesmo no modesto estabelecimento, situado no centro de Paraisópolis – MG, em que junto com o irmão, vende os produtos de sua fazenda, não imagina estar na presença de um dos produtores de café mais premiados do país, tema de reportagens de revistas e televisões do Brasil e do exterior.
Essa fama toda acabou vindo meio por acaso, em 2001, quando informado por um amigo da realização do Terceiro Concurso de Qualidade Cafés do Brasil, promovido pela BSCA – Associação Brasileira de Cafés Especiais, resolveu participar. Como estava em viagem, precisou da ajuda de amigos e de uma logística complexa para conseguir enviar e inscrever seu produto. A expectativa era só de participar e tornar seu café orgânico conhecido, pois, até então, nenhum café orgânico havia sido premiado neste tipo de concurso.
Só compareceu à premiação em São Paulo porque estava na cidade para uma consulta médica no mesmo dia. Chegou atrasado e, em “mangas de camisa”, para ser surpreendido ao ver seu café levar o primeiro prêmio e ganhar o título da “Cup of Excellence” com uma das maiores notas que um café já obteve no mundo: 97,53 dos 100 possíveis.
A partir daí algumas coisas começaram a mudar. Sua produção de café, que até então era vendida aos corretores de Santa Rita do Sapucaí – MG como café comum, passou a ser disputada por compradores de cafés especiais nos Estados Unidos, Japão e Europa.
Mas não é apenas a qualidade do café que fez a fama internacional do “Seo” Paulinho, o cuidadoso trabalho de adubação e manejo orgânico, a colheita manual, as técnicas inovadoras de secagem e armazenamento e o respeito pelo meio ambiente renderam admiração e prêmios no exterior.
A fazenda recebeu por duas vezes o prêmio de dez mil dólares da organização norte-americana Allegro Coffee Company, em reconhecimento ao modelo orgânico e sustentável de produção de café – https://www.allegrocoffee.com/about/origin-direct-program#brazil-santa-terezinha.
Entre os fatores que mais chamam a atenção do visitante está o fato de que boa parte dos pés de café estão à sombra de árvores, como a “taiuveira”, companhia predileta dos pés de café. Isso contribui para melhorar a qualidade das plantas, que crescem mais viçosas, com maior número de galhos e quantidade de frutos.
Outra característica marcante é que todos os pés de café da fazenda estão plantados em áreas de solo vulcânico ricas em fósforo e potássio; situadas acima de mil metros de altitude, medida que, segundo ele, foi tomada para evitar a ocorrência de geadas, que no passado haviam trazido prejuízo, devastando as primeiras plantações.
“Seo” Paulinho gosta de dizer que os fatores chave para explicar o sucesso de seu café correspondem aos cinco dedos de sua mão direita: altitude, clima e solo (ou seja, as características naturais do terroir); colheita seletiva (apenas os frutos maduros são colhidos, o que resulta em várias colheitas do mesmo pé de café), e o trabalho de terreiro (secagem feita em jiraus cobertos, num modelo desenvolvido na própria fazenda).
Seu trabalho nos mostra que é possível produzir um café de qualidade sem devastar os recursos ambientais. Como ele costuma explicar: “é uma questão de entender a natureza, porque na natureza não há recompensas nem punições, há consequências”.
Visitem a Fazenda Santa Terezinha (Estrada Paraisópolis-Consolação, km 7).